O ser humano no século XXI está cada dia mais intolerante, agressivo e voltado para si memo. Independente de onde esteja inserido, vemos a crescente desumanização do homem.
Vivemos em um mundo que valoriza o individualismo, incentiva o egoísmo e o consumismo, terreno pedregoso paras verdades absolutas, no entanto, fértil para o relativismo cultural.
Em meio a esse cenário, vemos a falta de compaixão, banalização da violência, e o aumento da injustiça social.
Não está faltando apenas o pão material em nossa sociedade. Está faltando também, Jesus, o Pão da Vida, aquele que de fato sacia a alma do ser humano e os liberta do comportamento que destrói a si mesmo a ao seu próximo.
Jesus lhes disse: Eu sou o Pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede. João 6:35
ASSISTENCIALISMO OU INCLUSÃO SOCIAL
Em fevereiro, 2006, o presidente Lula surpreendeu ao afirmar publicamente que “o Brasil não tem pressa de crescer com altas taxas”; o que deixou perplexos muitos cidadãos que se lembram de outra bravata presidencial em 2004 sobre o crescimento econômico espetacular do Brasil.
Em ambos os casos fica patente que o presidente e seu governo consideram o crescimento econômico como um fim em si, enquanto não passa de um meio para assegurar melhor qualidade de vida e bem-estar para toda a população; sobretudo o imenso contingente de excluídos e desamparados. Para estes, o governo oferece, com ampla divulgação nacional e internacional, o programa de “bolsa-família”, que incorporou o “fome zero”, o “bolsa-escola” e outros projetos assistenciais, inclusive aqueles implantados no governo anterior. O argumento preponderante é que salva da fome e garante a sobrevivência física de quase 9 milhões de famílias – um quarto da população brasileira – que vive abaixo da linha da pobreza, com menos de 1 dólar por dia.
Mas, quais os efeitos para a cidadania desses milhões de seres, clientes dependentes da benevolência e dos interesses dos políticos?
Seria demais esperar do poder público uma estratégia de políticas sociais que enxergasse o futuro mais distante, em vez de objetivos eleitoreiros imediatos?
Para isto, seria necessário redefinir as prioridades da nação mediante um amplo processo participativo, de consultas e audiências públicas abertas a todos e em todas as regiões, o que corresponderia à implantação da verdadeira democracia: o governo pelo povo e para o povo (...).
Esses objetivos não podem ser equacionados como mera decorrência do crescimento econômico que, dentro do marco do regime de mercado competitivo, leva inevitavelmente à concentração de renda, ao aumento da desigualdade e à deterioração das relações sociais – que está na origem da marginalidade, delinqüência e dos conflitos sociais.
A ignorância e o alheamento dos principais problemas e de suas verdadeiras causas por parte das elites e dos governantes estão na raiz de nosso crônico atraso e “subdesenvolvimento”.
Destacam-se entre outros, a distribuição desigual do produto social; a desigualdade de acesso a empregos, terra e aos serviços de educação e saúde, oportunidades de participação social e cultural; além dos preconceitos e da discriminação contra negros, índios, mulheres e pobres em geral.
Quando pressionadas, as elites e seus intelectuais orgânicos oferecem as respostas convencionais: pobreza é da responsabilidade individual (os pobres são indolentes e incultos) (...).
O desconhecimento e a ignorância das verdadeiras causas da anomia social são gritantes: as altas taxas de desemprego, sobretudo entre os jovens de 18-25 anos de idade que crescem sem qualquer perspectiva de se inserir no mercado de trabalho e a desestruturação das famílias pobres – quase metade das quais, na ausência de homens, é mantida por mulheres. Os filhos que crescem sem a presença do pai, são mais desajustados e tendem para a marginalidade e freqüentemente, são recrutados por narcotraficantes ou gangues de criminosos.
As meninas são presas fáceis para as redes de prostituição infantil de turismo sexual enquanto ambos, meninas e meninos são explorados pelo trabalho infantil que prevalece em várias regiões do Brasil, sobretudo as mais pobres.
Os desempregados, jovens e adultos sem instrução escolar em quantidade e qualidade suficientes percebem que não têm perspectivas de um futuro melhor e perdem a auto-estima. A exclusão do mercado de trabalho leva ao retraimento do convívio social, da própria família e da comunidade. Essa perda de identidade num mundo de incertezas e de violência transforma os indivíduos em inimigos de si mesmo e da sociedade, levando à desagregação social. Os ricos se protegem com carros blindados, grades de ferro e guardas particulares em suas residências enquanto os pobres e os sem-teto são encurralados para a periferia das grandes cidades (...).
Enquanto o discurso do poder público exalta a competição e o crescimento econômico que trarão a distribuição da renda e a justiça social. A realidade crua é que a política econômico-financeira praticada leva à concentração de renda, ao aumento das desigualdades sociais e regionais e à exclusão social da qual nenhuma demagogia ou “milagre” poderão nos redimir.
Por HENRIQUE RATTNER - Professor da FEA e USP